sexta-feira, novembro 03, 2006

Grande Entrevista - RTP



Editorial do DN de hoje:


Forrobodó


"Alberto João Jardim veio ontem a Lisboa demonstrar a boa arte de governar a Madeira. Tão boa que nos conseguiu convencer de que, afinal, não precisa do dinheiro do "forrobodó" continental. Uma simples e poupada folhinha, recheada de números, demonstrou à sociedade a insignificância do contributo do Estado para a autonomia madeirense. A única contrariedade que o indispõe é a petulância dos socialistas que ousaram, pasme-se, cortar-lhe as insignificâncias. Ainda por cima, são os Açores a levar mais dinheiro à custa da Madeira, ou melhor, à custa dele.

O azar português é ter ficado entregue à "patetice refinada" de Lisboa. O azar português é não ter requisitado Alberto João Jardim para uma comissão de serviço continental. E não se diga que é ironia. Está demonstrada a eficácia da sua governação. Aquela folhinha que dançou na mesa da RTP em que Judite de Sousa ousou entrevistar o presidente do Governo Regional da Madeira tinha tudo. Tintim por tintim, Jardim provou como a Madeira enriqueceu enquanto "essa gente" de Lisboa desbaratava o nosso capital. Alberto João até gosta de entrevistas, saudou aliás Judite de Sousa pela coragem em o entrevistar, ele que tem andado a ser "censurado estes anos todos". Mas ontem, contrariamente aos seus hábitos, precisava de contar a verdade que nos tem sido escondida e, por isso, não devia ter sido interrompido tantas vezes pela entrevistadora.

O protesto de Alberto João Jardim não tem a ver com qualquer dificuldade financeira. O seu genuíno protesto é pelo atrevimento, a ousadia, em mexer no seu "prato da sopa". Já chegava um "senhor Silva" que o tinha feito há muitos anos. Agora, são os socialistas a desrespeitá-lo. Pior, a instrumentalizar o Estado e isso Jardim não admite até porque seria incapaz de o fazer...

Num país tão endividado, incapaz de se auto-sustentar, devíamos estar agradecidos a Alberto João Jardim. A Madeira está rica, dívidas não é com ela, e no Continente só há inveja, o mal português de sempre. Ele sabe como se faz, não se deixa intimidar pelo "politicamente correcto", levanta a voz à "classe política" e até meteu na ordem os separatistas. Ontem, presenteou-nos com a revelação de um pacto: prometeu aos separatistas uma "autonomia evolutiva" em troca do silêncio da Flama.

Bem vistas as coisas, Jardim faz falta à Pátria. A Pátria devia agradecer-lhe. É um homem divertido, está disposto a "ajudar uma vez mais" o País. Em vez de lhe cortarmos a verba devíamos era chamá-lo a ensinar-nos a boa arte de governar. A democracia é muito injusta e imperfeita. E isto já não vai lá com croquetes, como bem avisa o PSD... "

António José Teixeira, In Diário de Notícias de 03-Nov-2006